Antes mesmo de ser oficial- mente inaugurada, a ciclovia da Avenida Ana Costa coleciona manchas em sua reputação. Ciclistas a classificam como muito estreita e fora dos padrões de segurança. A impressão transformou-se em constatação para o advogado Alexandre Cardoso, de 42 anos. Um único deslize e o ciclista, que voltava da academia, foi parar no meio da pista, sentido Centro.

O acidente aconteceu no dia 31 de outubro e lhe custou dois pulsos quebrados, uma fratura exposta, duas cirurgias, dez dias de internação e a perda de sensibilidade de três dedos da mão esquerda. "A minha sorte é que o carro vinha em baixa velocidade e freou a tempo.Caso contrário, não estaria aqui para contar a história".

A queda na ciclovia ocorreu em frente ao número 76 da Ana Costa. Alexandre conta que perdeu o controle da bicicleta porque o pneu bateu na mureta que divide a faixa reservada aos ciclistas da avenida. Segundo ele, como a largura para quem pedala é muito pequena, há uma preocupação constante de não bater o pedal ou o pneu na borda.

"Num instante de desequilíbrio, em que o guidão deu uma leve inclinada, a roda bateu nessa mureta. Tentei colocar o pé direito para me equilibrar e não encontrei nada, por causa do desnível entre ciclovia e avenida. Fui direto para a pista". A Tribuna mediu os espaços destinados aos ciclistas em dois pontos da ciclovia.

No primeiro, em frente à Igreja Coração de Maria, o espaço para pedalar é de 80 centímetros. Nesse local, as mãos de direção são separadas por uma área de aproximadamente 1,95 metro de largura, ocupada por grama e pelas palmeiras imperiais. Em outro ponto, já próximo à interligação com a ciclovia da praia, a mão de direção é dupla e sobra1,65metroparaasbicicletas, o que significa cerca de 80 centímetros para o ciclista que se conservaem sua delimitação.
Se comparada com os padrões nacionais ideais, os ciclistas têm razão em se sentir apertados e inseguros. Conforme o Manual de Projeto Geométrico de Travessias Urbanas, documento publicado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em 2010, os ciclistas necessitam de 1 metro de espaço operacional.

A medida atende apenas à largura que ocupam a o pedalar em linha reta. "Umalarguratotalde1,2metro é admitida como mínima para qualquer via destinada a uso exclusivo ou preferencial de ciclistas", diz o documento. Para ciclovias com as duas mãos de direção, o mínimo recomendado são 2,4 metros. Em alguns locais, como rodovias, o ideal são 3 metros de largura.

Funcionários de um centro automotivo localizado em frente ao ponto onde o advogado Alexandre Cardoso se acidentou são testemunhas de outras quedas. A recepcionista Elaine Bezerra, de 26 anos, relembra casos, como uma menina que pedalava na ciclovia e se desequilibrou. "O pai, que vinha logo atrás, conseguiu segurá-la pelo braço.

Mas a bicicleta foi parar no meio da avenida". No projeto que atende a Avenida Nossa Senhora de Fátima, a previsão de espaço para ciclistas também deve ser inferior ao recomendado pelo DNIT: 2 metros, exceto nas travessias de pedestres, quando a largura cai para 1,6 metro. Em outros três pontos de cruzamentos a ciclovia também ficará mais estreita,com1,8 metro.

Nestes casos, serão colocadas grades com 1,2 metro de altura para maior proteção do usuário. Em alguns pontos de mão dupla, a ciclovia da Ana Costa conta com gradil. Esta é a solução mais adequada na opinião do engenheiro de transportes Fernando Mac Dowell.

O professor doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro afirma que este tipo de proteção é a melhor alternativa em faixas estreitas, localizadas em canteiros centrais e sem área de refúgio. "A maioria das obras cicloviárias do País não segue os padrões internacionais de segurança, previstos no Highway Capacity Manual (HCM)".

O documento norte americano é uma espécie de parâmetro, com fórmulas e normas técnicas de engenharia. As regras levam em conta o nível de serviço, a quantidade de ciclistas e as características do viário para a elaboração de projetos de rodovias e ciclovias. Ciclista há 50 anos, ex-triatleta e adepto do ciclismo de aventura,Percival Ozores utilizou várias vezes a nova ciclovia e tem uma opinião formada.

"Em alguns trechos há a mureta dividindo o concreto e a grama fronteiriça à avenida. Em outros não há divisão e a grama dá lugar ao concreto, o que induz os pedestres a atravessarem em locais não apropriados. Eu tiraria essa mureta e colocaria grama contínua".