Contexto: Natal, família, essa coisa toda. Como em várias outras vezes, ontem fui para a casa dos meus pais de bicicleta (pouco mais de 20Km). Perto da casa deles, tive um problema com a corrente, que rompeu-se. Na impossibilidade de voltar pedalando, hoje trouxe a bicicleta pra casa de metrô – como faço muitas vezes quando está tarde, ou estou muito cansado.
Meu trajeto: meu pai me deixou na estação Artur Alvim (Linha 3 – Vermelha), e eu moro a 2 quadras da estação Consolação (Linha 2 – Verde). Para ir do ponto A ao ponto B, tenho de fazer baldeação na estação República e pegar a moderníssima (e privatizadíssima) Linha 4 – Amarela. Desço na estação Paulista, que é integrada com a estação Consolação, meu destino final.
A questão: Dos milhões de passageiros que diariamente veem a mensagem de que “aqui sua bicicleta é bem-vinda” (ai que lindo!), são poucos os que sentem na pele as restrições impostas pelas regras estabelecidas. Muitas são em função das próprias limitações da nossa frágil rede metroviária. Mas há outras que simplesmente dificultam absurdamente a integração do modal bicicleta + metrô, sem grandes justificativas.
A pior delas sem dúvida é a impossibilidade de trafegar nas escadas rolantes. Isso significa que ciclista tem que subir de escada fixa, tendo de levar a bike NA LOMBA, mesmo havendo formas mais práticas à disposição. Quem pega as cômodas escadas rolantes do metrô todo dia muitas vezes não percebe o perrengue que seria se essas escadas rolantes não existissem. Pois bem, no meu trajeto de hoje contei todos os degraus:
Artur Alvim
Subi 10 degraus para ter acesso à rampa
Desci 36 degraus para chegar à plataforma (descida é mais fácil, mas não muito)
República
Subi 71 degraus pra chegar à Linha Amarela
Paulista
Subi 23 degraus para sair da plataforma
Subi 19 degraus pra ter acesso à Linha Verde
Consolação
Subi 63 degruas pra chegar à linha de bloqueios
Subi 48 degraus para chegar à rua
Total: 270 degraus
Para um efeito comparativo, ao chegar em casa contei quantos degraus tem cada andar do prédio onde moro (que tem um pé direito bem alto, por sinal). Cada andar tem 18 degraus. 270/18 = o equivalente a exatos 15 andares com a bicicleta nas costas.
Mas sua bicicleta é de alumínio, é levinha, não é? Sim, ela é de alumínio, mas pesa 16 Kg. Sem contar a bolsa que acoplo no bagageiro, que hoje pesava mais 7Kg. No total, são 23 Kg que mal se sentem quando equilibrados sobre duas rodas, mas que são terríveis quando se tem de tirar essas duas rodas do chão para subir 15 andares de um prédio.
Para uma comparação, 23 Kg é o limite de peso permitido por várias empresas aéreas para a bagagem despachada. Ou seja,15 andares carregando uma mala grande de viagem quando havia, em todas essas circunstâncias, mais de uma escada rolante à disposição. Desnecessário dizer que escrevo esse texto com dor nas costas.
O que os ciclistas fazem, hoje, frente a essa situação? Basicamente, ou se sujeitam a essa situação que chega a ser desnecessariamente humilhante, ou dão uma de joão-sem-braço e enfrentam as escadas rolantes, sempre com a iminência de receber uma advertência dos funcionários do metrô. Já ouvi as desculpas mais criativas que vários amigos dão aos seguranças quando eles são abordados.
Queria muito que o Metrô fosse igualmente criativo na busca por soluções. Que podem ser tão simples como abrir mão dessa regra, ou de definir uma escada rolante “bike friendly” em todos os trechos.
Fonte: Mauricio Alcantara
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