Em julho de 2010, um exame de rotina detectou que Rogelin estava com câncer no rim. E mais, que o tumor estava localizado dentro do órgão. Assim, uma cirurgia para retirada do rim seria uma solução plausível.
- Minha meta era voltar às competições. Eu me fechava no mundo. Cada um tem uma opinião. Eu procurei o isolamento e focar em meus objetivos. Minha carreira está para acabar em breve, mas não era isso que iria me tirar. Eu queria seguir, com ou sem vitórias - disse Rogelin.
A vida de Rogelin passou a ficar nas mãos do médico Marcos Dalloglio, um dos especialistas neste tipo de doença e que seria o 'anjo' na vida do ciclista. Até os 24 anos, ele era apenas Marquinhos, então meio-campista do Internacional. O médico, inclusive, esteve em campo na semifinal do Brasileirão de 1987. O agora ex-atleta se identificou com o caso de Rogelin e se dedicou intensamente para livrá-lo do tumor, mesmo que para isso não recebesse nenhum valor.
Ele foi um anjo que Deus colocou na minha vida. Nós nem nos conhecíamos a partir do momento que fui me consultar. Ele simpatizou comigo. Eu não tinha nada a oferecer, mas paguei a consulta e depois ele me devolveu o dinheiro. Eu tenho que agradecê-lo"
Daniel Rogelin, ciclista
- Dinheiro não tem nenhum papel em nossa vida. Em alguns momentos ele serve para alguma coisa. Na medicina, se ele vier na frente, perde todo o valor. Perde todo o humanismo e compaixão que se exige essa profissão - revelou Dr. Marcos, que não cobrou nada pela cirurgia em Rogelin, realizada no dia 13 de abril deste ano.
A admiração e o repeito de Rogelin ao Dr. Marcos ficou evidente nas palavras dele. Após participar da prova contrarrelógio, em São Carlos, ele mostrou sua emoção ao falar do médico.
- Ele foi um anjo que Deus colocou na minha vida. Nós nem nos conhecíamos a partir do momento que fui me consultar. Ele simpatizou comigo. Eu não tinha nada a oferecer, mas paguei a consulta e depois ele me devolveu o dinheiro. Eu tenho que agradecê-lo. Desejar tudo de melhor na vida dele. Que sirva de exemplo aos demais médicos para que possam ajudar os que precisam. Foi algo realmente extraordinário no meu mundo - emocionou-se.
Recomeço
Dois meses após a cirurgia, Rogelin voltou a competir e, de cara, conquistou o título da Volta Internacional do ABC pela equipe de São José dos Campos. O ciclista avaliou a vitória como especial, com o sabor de primeira na carreira.
- Depois da minha recuperação eu participei da Volta Internacional do ABC e eu consegui ganhar. Foi uma vitória que me pareceu ser a minha primeira na carreira. Foi uma superação fora do normal - explicou o atleta.
Após três etapas da Volta de SP, Rogelin acredita que será possível disputar uma etapa para lutar pela vitória.
- A gente faz o trabalho de equipe. Eu ainda vou tentar disputar uma chegada com todos, mas não decidi qual, pois estou bastante abaixo do meu ideal.
Mesmo recuperado da luta contra o câncer, Rogelin tem sentido dificuldades para percorrer os mais de mil quilômetros da Volta de SP.
- Eu voltei aos treinamentos faz poucos dias. Tive uma queda de rendimento que ficou evidente. Ainda temos etapas duras pela frente. Na serra de Campos do Jordão todos irão sentir e comigo também será assim.
(Foto: Reuters)
Lance Armstrong
A situação enfrentada por Rogelin foi parecida com a de outro ciclista: Lance Armstrong. Em 1996, o americano descobriu que sofria com câncer, mas enfrentou a doença e ganhou sete vezes seguidas o Tour de France (entre 1999 e 2005), considerada o maior evento do ciclismo mundial. Armstrong, porém, teve os títulos suspensos após a agência de controle antidoping afirmar que ele fazia uso de substâncias ilícitas. Apesar da semelhança, Rogelin se apegou a um outro exemplo para lutar pela vida.
- Ele (Armstrong) é um caso isolado. É um super atleta. Serve de exemplos para muitos, mas não para mim. Eu usei algo que está acima dele, que é Deus. Tinha que me apegar ao mentor de tudo. Eu me desapeguei de tudo que eu tinha. Nada mais tinha sentido. Neste momento eu pensava em ter coisas simples na vida. Eu aprendi a valorizar várias coisas, principalmente as menores da vida - disse.
O segredo para vencer o câncer, continuar vivo e fazendo o que mais gosta, Rogelin mostrou que não é preciso ter ídolos e esperar pela sorte, mas sim ir buscar os objetivos.
- Eu acredito em Deus. Nele e na minha determinação. Não tenho ídolos. Quando mais você acredita em sorte, mais fraqueza absorve, pois fica esperando por ela e perde o foco. Minha filosofia é essa.
Falta de incentivo
Com uma bela história no ciclismo, Rogelin é o mais velho ciclista brasileiro em atividade. Por isso, ele mandou um recado aos dirigentes e incentivadores do Brasil, para que se possa olhar mais para o ciclismo, assim como acontece em outros esportes.
- Não falta pouco incentivo no ciclismo brasileiro. A verdade é que falta tudo. Eu pratico ciclismo há 24 anos, mas se for ver o lado financeiro, quando para de competir ainda é preciso trabalhar. É um esporte que está crescendo. É preciso olhar mais para o lado esportivo. Existe muito foco no futebol. Tem que ter muito incentivo para existir uma evolução no ciclismo, como acontece na Europa.














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