Coincidência ou não, só nesta quarta feira (11) duas reportagens, na imprensa paulista e carioca, tratam de um mesmo problema: a construção de ciclovias estreitas e fora dos padrões de segurança.
Em ambos os casos, as pistas para bicicletas sequer foram inauguradas oficialmente pelas prefeituras. Uma delas é a ciclovia da rua Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, destaque da matéria de Simone Avellar, da agência “O Globo”; e a outra o novo trecho cicloviário implantado na cidade de Santos, motivo de crítica da jornalista Alcione Herzog, em no site da “Tribuna de Santos” (www.tribuna.com.br).
A seguir, um resumo das matérias:
No Rio, uma ciclovia estreita demais
Ela ainda não foi inaugurada, mas já está causando polêmica. Com cerca de 70 cm de largura, a ciclovia compartilhada em construção na rua Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, tem sua funcionalidade questionada por moradores e especialistas, que julgam o espaço muito estreito para receber pedestres e bicicletas ao mesmo tempo.
“A prefeitura decidiu fazer uma ciclovia, mas não realizou planejamento algum. É uma loucura”, afirma Alfredo Piragibe, presidente da Associação de Moradores do Jardim Botânico. Também a presidente da Associação de Moradores da Gávea, Amélia Crespo, está preocupada: “Vão construir uma calçada de pista dupla, compartilhada, com postes e árvores no meio do caminho. O risco de acidentes, assim, vai ser sempre alto. Se as autoridades, antes de desenvolverem projetos, promovessem encontros para ouvir os anseios da população, evitariam muitas situações de desgaste”, reclama.
Segundo Claudio Santos, presidente da Federação de Ciclismo do Rio de Janeiro, a largura mínima para a segurança de usuários de uma ciclovia é de 1,5 m. “Menos que isso é arriscado para quem pedala”, diz.
O subsecretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Moraes, esclarece que não há mesmo um projeto, uma vez que está ocorrendo apenas “uma melhoria da calçada, permitindo a passagem de bicicletas e outros veículos não motorizados”. “Se um dia fizermos uma intervenção para construir uma ciclovia de verdade, vamos ter planejamento. Por enquanto, a ideia é apenas garantir maior acessibilidade. Acidentes podem ocorrer em qualquer ciclovia, já que a maior parte dos casos é consequência de mau uso”, declara.
Novas ciclovias de Santos têm problemas e geram acidentes
Antes mesmo de ser inaugurada, a ciclovia da avenida Ana Costa, em Santos, já é classificada pelos frequentadores como muito estreita e fora dos padrões de segurança. É a constatação do advogado Alexandre Cardoso, de 42 anos, que por um único deslize, quando voltava pedalando da academia, foi parar no meio da pista.
O acidente ocorreu no dia 31 de outubro e custou-lhe dois pulsos quebrados, uma fratura exposta, duas cirurgias, dez dias de internação e a perda de sensibilidade de três dedos da mão esquerda. “A minha sorte é que o carro vinha em baixa velocidade e freou a tempo”.
A queda na ciclovia ocorreu em frente ao número 76 da av. Ana Costa. Alexandre conta que perdeu o controle da bicicleta porque o pneu bateu na mureta que divide a faixa reservada aos ciclistas da avenida. Segundo ele, como a largura para quem pedala é muito pequena, há uma preocupação constante de não bater o pedal ou o pneu na borda.
A equipe de “A Tribuna” mediu os espaços destinados aos ciclistas em dois pontos da ciclovia. No primeiro, em frente à Igreja Coração de Maria, o espaço para pedalar é de 80 cm. Nesse local, as mãos de direção são separadas por uma área de aproximadamente 1,95 m de largura, ocupada por grama e pelas palmeiras imperiais. Em outro ponto, já próximo à interligação com a ciclovia da praia, a mão de direção é dupla e sobra 1,65 m para as bicicletas, o que significa cerca de 80 cm para o ciclista que se conserva em sua delimitação.
Conforme o Manual de Projeto Geométrico de Travessias Urbanas, publicado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em 2010, os ciclistas necessitam de 1,2 m de espaço operacional. A medida atende apenas à largura que ocupam ao pedalar em linha reta. “Uma largura total de 1,2 m é admitida como mínima para qualquer via destinada a uso exclusivo ou preferencial de ciclistas”, diz o documento. Para ciclovias com duas mãos de direção, o mínimo recomendado são 2,4 m. Em alguns locais, como rodovias, o ideal são 3 m de largura.
Na ciclovia da avenida Nossa Senhora de Fátima, em projeto, a previsão de espaço para ciclistas também deve ser inferior ao recomendado pelo DNIT: 2 m, exceto nas travessias de pedestres, quando a largura cai para 1,6 m. Em outros três pontos de cruzamentos a ciclovia também ficará mais estreita, com 1,8 m.
Nestes casos, serão colocadas grades com 1,2 m de altura para maior proteção do usuário. Em alguns pontos de mão dupla, a ciclovia da Ana Costa conta com gradil. Este tipo de proteção é a melhor alternativa em faixas estreitas, localizadas em canteiros centrais e sem área de refúgio, avalia o engenheiro de transportes e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernando Mac Dowell.
Segundo ele, “a maioria das obras cicloviárias do país não segue os padrões internacionais de segurança previstos no Highway Capacity Manual (HCM)“, documento norte-americano que dá parâmetro, com fórmulas e normas técnicas de engenharia para as ciclovias. As regras levam em conta o nível de serviço, a quantidade de ciclistas e as características do viário para a elaboração de projetos de rodovias e ciclovias.
Autor: Redação Mobilize Brasil
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