Sustentabilidade à parte, eles agora querem provar que também podem competir com seus colegas motorizados no quesito eficiência. "É até óbvio que bike não polui. Por isso, o nosso foco é o desempenho", diz o ex-designer gráfico Paulo Zapella, 29, que abriu, há quatro meses, a empresa Giro Courier com Daniel Chu, 31.
A base fica numa casa na Vila Olímpia, zona oeste, cujo aluguel é dividido com os donos de uma loja de bicicletas. De lá, eles comandam dois ciclistas fixos e outros três que são acionados conforme a demanda. Numa sexta-feira de dezembro, contam, os próprios sócios tiveram de pedalar para ajudar a atender os chamados do dia.
"As pessoas perguntam se uma encomenda sai da zona sul e chega em três horas no centro. Chega em meia hora!", diz Paulo. O tempo do serviço, afirma ele, é equivalente ao da moto. Se esta é mais veloz, a magrela sai na frente em flexibilidade e facilidade para estacionar em qualquer lugar.
A justificativa que ele usa para mostrar a competitividade é o resultado do Desafio Intermodal, competição anual que compara a velocidade e a emissão de gás carbônico de diferentes meios de transportes num percurso que sai da zona sul rumo ao centro. Na última edição do evento, em setembro, a bicicleta venceu a moto com uma folga de quase seis minutos.
VAGAS DISPUTADAS
Mesmo com o desgaste físico, não faltam candidatos para as vagas de "bikeboy", mas encontrar o perfil adequado é difícil, diz Rafael Mambretti, 30, que, com o irmão Danilo, 34, abriu a Carbono Zero Courier há pouco mais de um ano. A empresa, que começou com dois ciclistas, hoje conta com 20 contratados para cumprir uma média de 30 a 40 entregas diárias.
"Qualquer um acha que consegue pedalar, mas tem de fazer isso até debaixo de chuva", conta Rafael, acrescentando os cerca de 60 km diários. "É quilometragem de esportista." Isso sem contar a disputa com os carros.
"A gente é tachado de vagabundo pelos motoristas, acham que não estamos trabalhando", afirma Rodrigo Lima, 34, que está na Carbono Zero há seis meses, mas pedala profissionalmente há 17 anos. Rodrigo, que cursou logística na faculdade, abandonou o trabalho em escritórios porque queria se "sentir livre". "Eu já ia ter de pedalar 100 km por dia como hobby. Pelo menos aqui eu ganho por isso", diz o hoje supervisor da empresa.
A CLIENTELA
Os primeiros clientes da Carbono Zero foram pequenos empresários que circulavam pelo mundo das bicicletas. Depois, vieram empresas de olho no selo sustentável e, por fim, os que buscavam uma alternativa aos motoboys.
Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), uma moto com cinco anos de fabricação emite, em média por quilômetro rodado, 76,5 gramas de gás carbônico, que contribui para o aquecimento global.
Também são despejados poluentes como óxido de nitrogênio e hidrocarbonetos, que dificultam a oxigenação do sangue, atacam as vias respiratórias e podem levar a doenças cardíacas.
O médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, alerta que a rotina pode tornar o ciclista a maior vítima daquilo que pretende combater. "Por causa do esforço físico, ele respira de 20% a 30% mais poluentes que um motociclista." A dica para quem pedala, diz, é evitar as vias de trânsito rápido, onde a concentração das substâncias é maior.
TESTAMOS
Na segunda-feira da semana passada (dia 9), a reportagem testou anonimamente a Giro Courier, a Carbono Zero e uma empresa de motoboys. O serviço era buscar um envelope na Bela Vista, região central, e levá-lo até Pinheiros, zona oeste.
A Carbono Zero se saiu melhor. Com a retirada prevista para as 14h45, chegou dez minutos atrasada, mas concluiu a entrega em 17 minutos (cobrou R$ 18). Agendada para as 15h15, a Giro Courier chegou no horário, porém levou 55 minutos para a entrega (cobrou R$ 22). O motoboy chegou 1h20min atrasado e levou 27 minutos até Pinheiros (R$ 36).
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