Em 1998, Monique van der Vorst, aos treze anos de idade, foi parar em uma cadeira de rodas após uma cirurgia no tornozelo mal sucedida. Um ano depois estava em um centro de reabilitação e descobriu a handcycle, uma bicicleta que se ‘pedala’ com as mãos. “Eu usava a bicicleta para ir para a escola, mas também para desenvolver-me mentalmente. Melhorou minha autoestima. Pude demonstrar que ainda podia fazer algo."
Ao ver que tinha talento, começou a treinar e a participar de competições. Em 2001, tornou-se campeã europeia pela primeira vez. E foi muito bem sucedida. No entanto, em 2008, Van der Vorst sofreu um acidente. Ela foi atropelada por um carro na cidade de Tampa, nos Estados Unidos, enquanto participava de um treinamento. Entrou em estado de coma e com uma lesão na medula.
Medalhas de prata
“Depois tive que começar tudo de novo, mas tinha um objetivo: cinco meses depois aconteceriam os Jogos Paraolímpicos em Pequim. Assim que saí do hospital já estava de novo na minha handcycle. Estive em Pequim em 2008 e obtive duas medalhas de prata. Eu não acredito que eu chege a ser tão bem sucedida novamente. Pelo menos não nos Jogos Paraolímpicos.
Em março de 2010, durante um treino de handcycle na Espanha, o destino mudou novamente sua vida. “Eu parti um pouco mais tarde que o grupo e acelerei para alcançar meu grupo. No momento de frear, senti que um ciclista bateu em mim por trás. Tive um espasmo como se me houvessem eletrocutado. Essa sensação não desapareceu e foi muito desagradável”.
Formigamentos
Depois de um período em um hospital espanhol, Van der Vorst foi trasladada para a Holanda. “Foi ficando cada vez pior. Perdi mais funções corporais e emagreci muito. Só podia estar deitada e não tinha forças sequer para comer. Uma época insuportável, com muita dor, frustração e insegurança. Até que chegou o momento que, durante a noite, belisquei minha mão e meus dedos se alongaram e senti um formigamento no meu pé esquerdo. Não sentia nada quando tocava minha perna, mas senti o formigamento. Foi muito estranho”.
Nenhum médico podia explicar o fenômeno, mas para Van der Vorst foi um sinal de que deveria treinar com afinco. “No início, podia movimentar minhas pernas alguns centímetros, mas chegou um momento em que pude levantá-las e pude “caminhar no ar”, sem apoiar os pés, sustentando-me com as mãos. Com essa motivação, comecei a treinar com o dobro de intensidade. Era uma luta contra meu próprio corpo. Não me interessava o passado nem o futuro. Estava eufórica. Queria cada vez mais e mais e mais”.
De volta ao esporte
Em março de 2011, Van der Vorst recebeu sua primeira bicicleta. “Então comecei a treinar somente por diversão. Tudo correu tão bem que eu comecei a participar de corridas. No verão, pedalei da Itália até a Holanda em três semanas; todas as montanhas; mais de 3 mil quilômetros. Sozinha, porque queria tranquilidade para pôr meus pensamentos em ordem. Então compreendi que queria voltar a praticar esportes”.
Muitas equipes de ciclismo queriam contratar Van der Vorst, devido ao seu talento e mentalidade, mas também por sua incrível história e publicidade que poderia trazer à equipe. Finalmente ela optou pela Rabobank. “É a equipe de ciclismo mais profissional. Além disso, é fantástico fazer parte do time de Marianne Vos, campeã olímpica.
Inspiração
“É difícil entender ser, de cara, tão popular. Eu recebi pedidos de entrevistas do Japão, Brasil, Estados Unidos e Inglaterra. Escrevem sobre mim na internet, no twitter e recebo muitos e-mails de pessoas que me consideram uma fonte de inspiração. Ainda preciso me acostumar”.
Através do duro treinamento e a necessária (má) sorte, Van der Vorst pôde levar adiante uma pequena revolução em sua vida. “Há um ano não podia andar de bicicletas nem por cinco minutos; agora todos os dias. Há um ano, não podia andar de bicicletas, agora pedalo por montanhas e sou uma ciclista profissional. Há um ano não era nada, na verdade; havia perdido minha paixão, meu esporte e inclusive meu trabalho. Foi uma busca intensa de mim mesma. Finalmente vivi o cotidiano e tudo acabou bem”.
Agora, Monique van der Vorst tem outra meta: os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. “É um propósito muito difícil. Ainda não estou perto desse nível. Tenho que treinar e aprender muito. Mas tenho muito tempo até 2016”.
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