Como se sabe, o começo de temporada marcou o retorno de Otávio Bulgarelli e Gideoni Monteiro para o Brasil. Mas outros nomes nacionais permaneceram em solo europeu. Casos de Rafael Andriato e Carlos Manarelli. Mas um outro nome também figura no país da bota: Teo Grandi.
Teo começou sua relação com o esporte através do MTB
O jovem de 22 anos tem uma história peculiar, que envolve não apenas talento, mas também coragem e determinação. Uma luta, que por vezes pareceu desigual, pelo sonho de ser ciclista profissional e conseguir seu espaço no berço do ciclismo mundial.
Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Presidente Prudente, Teo começou sua relação com o esporte através do MTB, foi apresentado ao ciclismo de estrada em 2004 e conquistou resultados relevantes nas categorias de base, onde defendeu as equipes de sua cidade natal, São Caetano e Sorocaba. Desembarcou na elite, mas a desilusão com o ciclismo nacional falou alto. Foi quando Teo Grandi tomou uma decisão que mudaria seu futuro e destino: Ir para a Itália na cara e na coragem.
Em entrevista ao Prologo, ele faz uma avaliação de tudo o que aconteceu ao longo da carreira, faz um comparativo do ciclismo brasileiro e europeu e fala dos sonhos para o futuro.
Prólogo: Como foi essa transição para o ciclismo italiano?
Teo Grandi: Sempre tive apoio dos meus familiares e muitas vezes contei com o suporte do meu pai, o famoso “paitrocínio”.Consegui títulos importantes nas categorias de base. Fui campeão brasileiro e paulista no pré-juvenil. Já na modalidade Junior, conquistei o paulista de resistência, montanha e contrarrelógio. Terminei em 3º no Brasileiro de Estrada e CRI. Ganhei a Nove de Julho, disputei o Pan-Americano no Equador, entre outros. Mas assim que cheguei na Elite, onde defendia as cores da Altolins, fiquei muito frustrado. Percebi que no Brasil, o ciclismo é feito de heróis que não recebem o mínimo de valorização pelo trabalho que fazem. Sem contar os riscos que correm, e cheguei a conclusão de mudar. Fui radical. Decidi arrumar as malas e ir para a Itália. Seria uma resposta para todas as minhas perguntas e que um dia, caso abandonasse, não fosse pelo ato de não tentar.
P : E qual foi a sensação assim que desembarcou na Itália?
T.G: Fui para a Itália com a bicicleta, a mala e a cara de pau. Acredite ou não, mas foi assim. Sem falar a língua, sem conhecer ninguém no meio ciclístico. Arranjei um quarto para alugar e as coisas não demoraram a acontecer. Conheci uma família apaixonada por ciclismo e que me convidou para correr na equipe amadora deles (Piva/Teosport). Havia chegado em fevereiro e ao contrário do Brasil, a vaga em uma equipe diletante já era impossível. Foi um ano de muita dedicação, renuncia e sobretudo perseverança. Foram itens fundamentais para que eu conquistasse as vitórias necessárias e que se interessassem pelas minhas características e me dessem uma oportunidade, o que veio acontecer no ano seguinte com a FWR Bata.
P: O primeiro ano foi marcado por muitas dificuldades?
T.G: Com essa primeira equipe não conquistei nada além de muita experiência. Participei de provas como o Giro Baby e o Giro della Valle d’Aosta, que são consideradas universidades do ciclismo. Além de muitos quilômetros nas pernas. Tive um bom final de temporada e consegui me destacar em provas internacionais. Recebi propostas para outros times, afinal a Bata fecharia suas portas no final da temporada. Após alguns dias de especulações, me envolvi um pouco mais com o Team Brilla – onde competia Gideoni Monteiro. Ele me deu uma grande mão nesse período e fechamos acordo para 2012.
P: Gideoni e Bulgarelli retornaram ao país. Como encarou esse processo?
T.G: Tivemos outros ciclistas com muito mais experiência acumulada que os dois, e que mesmo com algumas tentativas, ao voltarem para o Brasil, não conseguiram colaborar com o crescimento do esporte. Essa questão é relativa e não depende dos atletas, mas deve ser trabalhada junto da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), São dois grandes atletas e só serão aproveitados se a CBC disponibilizar fundos para isso.
P: Como define sua adaptação na Europa?
T.G: Minha adaptação foi relativamente fácil. Me ensinaram muito o que me reservava uma equipe diletante, sem contar com o fato de que estou numa região onde a educação familiar é muito diferenciada do resto da Itália, onde o individualismo vem do berço e ainda infelizmente do utrapassado racismo, que mesmo não sendo meu caso, era sempre explicito. Aprendi nesses dois anos que o italiano é 8 ou 80, ou ele odeia sua presença invasiva aqui, ou ele admira sua história e sua coragem e te recebe como um filho. É essencial ter jogo de cintura e conhecer os dois lados pra saber valorizá-los.
P: E a questão da estrutura? O que falta para o ciclismo nacional crescer?
T.G: O ciclismo, assim como qualquer esporte, precisa de resultados que atraiam a mídia. Isso é o começo. Quanto ao choque estrutural, sem duvida é imenso. A Europa possui terreno, clima, e outra infinidade de detalhes mais avançados que os nossos para o ganho de performance, deixando esse desafio cada vez mais longe de se tornar realidade. Com isso, a única opção que resta – já que não surpreendemos lá fora – é a de realizar provas que atraiam equipes WorldTour e ProTour, abrindo uma vitrine, assim como fizeram a China e a nossa vizinha Argentina. Está última com uma economia menos evoluída do que a nossa.
P: Qual sua perspectiva para 2012?
T.G: 2012 é um ano decisivo, talvez o mais importante pra mim. Vou descobrir se tenho capacidade de me tornar profissional ou não. Espero me concentrar no limite – dentro e fora das competições – para conseguir atingir uma forma que jamais tive antes e poder ganhar confiança já nas primeiras provas, contando com uma equipe unida ao meu lado pra competir o maior numero de provas possíveis e esperar por bons resultados e claro, contatos para o fim da temporada.
P: Jogos Olímpicos do Rio 2016 é seu maior sonho?
T.G: Se pudesse resumir, é uma convocação que me completaria como atleta e possivelmente na vida. Uma competição que valorizo mais do que as três grande voltas. Espero que meus 26 anos sejam suficientes pra conter a experiência e mérito necessário pra tal desafio, trabalharei passo a passo pra isso.
P: Se pudesse comparar seu estilo ao de algum ciclista, quem seria?
T.G: Meu estilo aqui na Europa foi meio modificado. Sempre acreditei ser um escalador puro, mas vi que o buraco é mais embaixo quando as subidas ultrapassam os 10km e descobri um estilo parecido com o de Damiano Cunego, me destacando em clássicas com subidas não tão longas, porém repetitivas e seletivas.
Fonte: prologo
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