O item “h” do regulamento da Copa da República, uma das mais tradicionais competições do ciclismo brasileiro, ilustra o desfalque feminino na modalidade. Ele diz, quase como um alerta ou uma ameaça: caso não haja inscrição e participação de ao menos 20 ciclistas, a categoria poderá ser extinta a partir de 2012. Além de fixar a quantidade mínima para a disputa, a cláusula determina ainda que 60% das 20 atletas concluam a prova.
A resolução foi carimbada no regulamento em 2004, quando apenas sete ciclistas mulheres disputaram a prova. Desde então, o mínimo estipulado sempre foi atingido, mas nunca chegou a ser superado em grandes proporções — a participação recorde foi de 35 atletas, em 2010.
Ao contrário da determinação feminina, para ciclistas homens existe número máximo de participantes, que não pode ultrapassar 150 competidores. As diferenças entre as categorias, no entanto, não estão restritas à quantidade de atletas. A premiação para as mulheres é exatamente a metade — enquanto o valor total para eles é de R$ 7.800, elas ficam com R$ 3.900. O destaque também não é o mesmo. A disputa entre os homens é integralmente televisionada, mas somente são registradas a largada e a chegada das atletas.
Apesar das disparidades, a organização do evento não pode ser apontada como responsável pelo deficit de ciclistas. “Atualmente, são poucas mulheres no ciclismo e, para piorar, elas encontram dificuldade financeira e de apoio para viajar”, explica Júlio Alves, um dos organizadores da Copa da República. “Mas também não podemos montar um grande evento para uma dezena de competidoras. Gasta-se muito dinheiro e chega a ser feio para a modalidade, já que a prova é transmitida para todo o país”, completa.
Mas, ao menos por enquanto, a categoria feminina está garantida para 2012: 27 ciclistas confirmaram presença para a prova. Resta, agora, saber se elas realmente comparecerão e se mais de 60% cruzarão a linha de chegada. Uma das inscritas é a tricampeã brasileira de mountain bike, Julyana Machado, 34 anos. A brasiliense topou se adaptar ao ciclismo de estrada para aumentar o quórum feminino. “A falta de mulheres também é um problema do mountain bike, mas a gente não se pode deixar abater. Agora, é treinar a parte estratégica e competir com tranquilidade”, diz.
Classificatória
Criada em 2002, a Copa da República é famosa por ser transmitida pela TV Globo e por classificar os atletas para a Copa América, outra importante prova do ciclismo. A competição será disputada no próximo dia 18 deste mês, na Esplanada dos Ministérios.
Dificuldade de aceitação
José Humberto Costa, presidente da Federação de Ciclismo do DF, aponta a falta de aceitação dos motoristas como uma das maiores dificuldades no desenvolvimento do ciclismo de estrada. “A modalidade precisa ser praticada na pista, mas as pessoas não entendem isso”, diz. Segundo ele, as bicicletas atingem velocidades acima dos 70km/h e, por isso, as ciclovias não podem ser compartilhadas com os pedestres. “É só uma questão de respeito no trânsito”, pontua o presidente.
Renovações candangas
A jovem Laleska Alves aponta como uma esperança para o ciclismo de estrada de Brasília. Aos 15 anos, ela ainda não pode participar da Copa da República — a idade mínima é 18 —, mas já acumula algumas boas colocações em provas, como o segundo lugar no Torneio de Inverno deste ano, e há pouco mais de um ano encara uma rotina diária de treinamentos. “Não é um esporte fácil. A gente sofre bastante, realmente tem que ter muita força de vontade”, comenta a iniciante, ao sugerir motivos para a falta de atletas. “Mas é o que eu quero continuar fazendo”, alivia.
Apesar das dificuldades físicas citadas pela maioria das praticantes, o ciclismo de estrada em Brasília ainda consegue ser um atrativo por conta do clima e das rodovias próximas, favoráveis para treinos de longa distância. “Considero aqui o melhor lugar para o esporte”, elogia a brasiliense Loraine Tibursky, ex-triatleta que já treinou em São Paulo. O problema, segundo a estreante de 23 anos na Copa da República, é a falta de base e de incentivo. “Os motoristas nos veem treinando e não sabem o que estamos fazendo. O nosso trabalho é muito pouco divulgado”, lamenta.
Fonte: Correio Braziliense
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