“Dias de triunfos, como esse do Pan, ficarão marcados para sempre na minha vida”
Por Reinaldo Colucci
Olá pessoal! Sei que muitos já viram em alguns sites pequenas reportagens a respeito de minha conquista de ontem, mas escrevo aqui para vocês que me acompanham, todos os detalhes de como foi meu primeiro Pan Americano.
Após um longo período de preparação, o tão esperado dia da disputa da medalha nos Jogos Pan Americanos chegou. Eu estava bastante ansioso e queria que a prova começasse logo para poder colocar em prática tudo o que havia treinado. Porém a largada masculina só ia ocorrer às 11 horas da manhã e debaixo de um sol escaldante de mais de 35 graus.
No caminho para a área de competição, ainda tive tempo de dar uma paradinha e ver o finalzinho da prova da corajosa Pâmella, que conquistava uma medalha de bronze para o Brasil. Um ótimo sentimento e também, quem sabe um sinal de sorte para nós homens, que largaríamos na próxima hora.
Devido ao calor, nossa preocupação era o tempo todo em poupar energia e líquido dentro do corpo. A comissão técnica do Brasil fez um ótimo trabalho e disponibilizou toalhas geladas para que ficássemos o tempo todo com a temperatura do corpo baixa até o momento de nos alinharmos na plataforma de largada.
Eu estava numa ótima posição, próximo aos meus principais adversários. Tive uma largada limpa e consegui desde o início imprimir o meu ritmo sem me enroscar com ninguém. Com 200 metros de natação pude ver que estava na frente de todos os atletas do meu lado, mas sabia que o importante seria fazer bem a primeira boia que estava nos 400 metros. Então, eu continuei forçando e cheguei na boia em terceiro lugar, posição que mantive até a saída da água.
Procurei correr o mais rápido possível e fiz uma transição rápida. Com isso se formou um pequeno grupo de seis atletas que se juntou a mim e tentamos abrir dos demais atletas. No entanto, o grupo maior que vinha poucos segundos atrás, nos alcançou no final da primeira volta. Nesse primeiro grupo estavam todos os favoritos a vitória e também os outros dois brasileiros, Diogo Sclebin e Bruno Matheus. Nós três procuramos estar sempre bem posicionados dentro do pelotão, procurando evitar assim, qualquer fuga inesperada de algum atleta.
Porém, ficou claro a partir de algum tempo, que o time americano estava trabalhando para o atleta Manuel Huerta sair para correr junto e tentar a vitória na corrida. Percebendo isso, eu fiquei mais tranqüilo, pois sabia que não precisaria me preocupar com o ritmo do pelotão, pois o time americano faria isso não só para o Huerta, mas também para todos nós. Então era só ficar junto, poupar energias e principalmente beber muito líquido, pois o calor já fazia todos os atletas pingarem de suor, mesmo na etapa de ciclismo.
Fiz uma ótima transição para a corrida e saí para correr em segundo lugar. O atleta canadense Brent Mcmahon saiu muito forte e já abriu de cara, uns 20 metros de mim, mas eu preferi manter o meu ritmo e trabalhar para tirar essa diferença aos poucos. Perto do primeiro Km, o atleta americano Huerta encostou-se a mim e forçou o ritmo para buscar o canadense. Eu aproveitei a “carona” e também aumentei o ritmo junto com ele para encostar de vez no líder.
No próximo retorno que era no km dois, vimos que nós três estávamos na isolados na frente e que a disputa das medalhas ficaria entre a gente. Começou então uma prova de muito estudo e estratégia, onde procurávamos correr forte, mas sempre tentando poupar energias. No final da segunda volta, percebendo que o canadense estava mais cansado, aumentei o ritmo por alguns segundos e com isso ele ficou alguns metros para trás. Percebendo isso, o americano também forçou na sequencia e abrimos então a última volta na frente.
Agora era literalmente a disputa do ouro! O público todo que estava no percurso começou a torcer mais por mim e gritar Brasil! O tempo todo isso me dava ainda mais forças para superar as pernas cansadas e o calor insuportável. Faltando menos de 2km para o final, ao passar num posto de hidratação, deixei o americano que estava correndo essa última volta o tempo todo atrás de mim passar, para sentir qual ritmo ele seria capaz de fazer. Ele forçou por uns 200 metros.
Mas logo já voltou a correr mais devagar. Pude então perceber que ele estava muito cansando. Bem, eu também estava muito cansando, mas sentia que ainda tinha um pouco de reservas para realizar um bom sprint final. Era uma questão de atacar no momento certo para não ser surpreendido. Voltei a correr na frente, porém num ritmo um pouco mais cadenciado até chegar nos últimos 800 metros, quando comecei aos poucos aumentar a velocidade.
Fui esticando a passada até finalmente atingir a “velocidade máxima”. Já não escutava mais os passos do americano, mas continuava a correr forte sem olhar para traz, até que cheguei na reta final e então vi que estava sozinho. Consegui pegar uma bandeira do Brasil com a Paty, mulher do Diogo, e então comemorar a realização de um sonho: a tão sonhada medalha de ouro Pan Americana!!!
É difícil descrever qual o sentimento senti na hora que subi ao pódio. Mas sem dúvida, um filme passou dentro da minha cabeça relembrando desde os meus primeiros treinos, quando ainda morava em Descalvado, o dia que ganhei minha primeira bicicleta de triathlon do meu avô, que já faleceu há alguns anos, e infelizmente não pôde ver em vida esse momento comigo.
Até os dias de hoje, quando tenho que treinar longe de minha família, eu deixo de presenciar tantos momentos importantes, como o aniversario de um ano da minha filha, que foi no mesmo dia 23 de ontem, quando ganhei essa medalha. Mas tudo isso faz parte do esporte. O caminho até o pódio é duro. As vitorias são sempre superando muita dor e nossa vida é cheia de abdicações. Mas, dias de triunfos, como esse do Pan, ficarão marcados para sempre na minha vida.
Em especial fica meu agradecimento a minha mulher, Mariana, que tem estado comigo em todos os momentos, sejam eles fáceis e difíceis. Ao Cali, o meu técnico desde meus primeiros passos dentro do triathlon, que por muitas vezes acredita mais em mim do que eu mesmo. Aos meus patrocinadores, que fornecem todo o suporte que preciso para sempre melhorar. E por fim agradeço a todos que acreditaram em mim, me ajudaram ou simplesmente torceram! Tenham certeza de que sem o suporte de todos vocês, nada disso seria possível.
Valeu!
Abraço a todos.
Sou da Equipe SESI/SP. Patrocinadores: Pão de Açúcar, Damha e Asics. Apoios: Oakley, Scott, CDE e Zipp.
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