George Hincapie admitiu a um grande júri federal norte-americano que ele e Lance Armstrong se forneciam mutuamente com eritropoietina (EPO). O séptuplo vencedor da Volta à França, que sempre negou ter recorrido a doping, defendeu-se das denúncias de outros ex-colegas da US Postal atacando a falta de credibilidade destes, mas dificilmente conseguirá fazer o mesmo agora.
Hincapie é um ciclista com uma carreira sólida que compete actualmente na BMC. Esteve durante largos anos nas mesmas equipes que Armstrong, ajudou-o a vencer o Tour sete vezes consecutivas e o texano considera-o como o colega modelo. Ambos são amigos e Armstrong chegou mesmo a dizer que Hincapie é como um irmão para ele.
Ao contrário de Tyler Hamilton e Floyd Landis, Hincapie nunca teve um teste positivo nem desmentiu durante anos factos que depois teve de confessar publicamente: as declarações do ciclista nascido em Nova Iorque foram proferidas durante um testemunho juramentado (à porta fechada e sob sigilo), no âmbito da investigação da justiça dos EUA às práticas na antiga equipa apoiada pela US Postal, nomeadamente a suspeita de que o dinheiro do patrocinador, uma empresa pública, foi usada para financiar esquemas de dopagem.
A discussão à volta de Armstrong foi relançada na quinta-feira, quando Tyler Hamilton admitiu ao programa 60 Minutos, da CBS, que viu o texano injectar EPO e que a maioria dos ciclistas fazia o mesmo. Hamilton, que já devolveu a medalha de ouro que ganhara no contra-relógio dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, admitiu que recorreu a doping ao longo da sua carreira e que no pelotão era comum usar-se também testosterona, transfusões sanguíneas, entre outros dopantes.
O 60 Minutos avançou ontem com nova informação, ainda mais prejudicial para o texano. O programa de reportagem da CBS revelou que a investigação federal e os testemunhos prestados perante o grande júri conseguiram quebrar o código de silêncio no ciclismo. Pelo menos três ex-colegas de Armstrong na US Postal confessaram aos jurados que recorreram à dopagem e que viram o recordista de vitórias no Tour fazer o mesmo.
Um dos corredores que confessou foi George Hincapie, revelou o 60 Minutos, sem adiantar os nomes dos outros dois, ainda que seja provável que Hamilton e Landis tenham dito aos jurados o mesmo que afirmaram em público. Hincapie testemunhou que ele e Armstrong forneciam EPO um ao outro e que ambos chegaram a falar sobre o uso de testosterona durante o período de preparação para as provas.
Hincapie e advogado de Armstrong não comentam
Hincapie rejeitou ser entrevistado pela CBS, escudando-se na investigação em curso. Segundo a AFP, o corredor da BMC reafirmou esta posição em mensagens publicadas no Twitter: "No que respeita às informações do 60 Minutos, não posso fazer qualquer comentário sobre o inquérito em curso. Nunca falei com o 60 Minutos e não sei como é que eles obtiveram as suas informações. Como já tinha dito, estou desiludido pelas pessoas falarem do passado do ciclismo e não do seu futuro".
O advogado de Armstrong, Mark Fabiani, que ontem atacou a credibilidade de Hamilton dizendo que este apenas quer promover-se perante os editores, para garantir a venda do seu livro, disse agora à AFP que, por não ter "qualquer forma de saber o que foi dito perante um grande júri", não pode "comentar os artigos de imprensa sem fontes identificadas".
Investigação com colaboração européia
A investigação à US Postal, que era dirigida por Johan Bruyneel, actual director da RadioSchack (dos portugueses José Azevedo, Sérgio Paulinho, Manuel Cardoso e Tiago Machado), é liderada por Jeff Novitzky, da Food and Drug Administration (FDA, agência de segurança do medicamento e alimentar). Novitzky foi a principal figura do inquérito ao esquema de doping dos laboratórios BALCO, que afastou do atletismo de elite estrelas como Marion Jones e Tim Montgomery.
Além da FDA, participam na investigação à US Postal o FBI (Federal Bureau of Investigation), a USADA (Agência Antidoping dos EUA) e a Procuradoria Federal norte-americana. O inquérito tem a colaboração da Interpol e de vários países da Europa e originou uma investigação autônoma a Michele Ferrari, ex-médico e preparador físico de Armstong. O inquérito foi lançado na sequência da confissão e das denúncias de Floyd Landis, perdeu a vitória no Tour 2006 por doping.
Fonte: Desporto
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